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A qualidade do sono é fundamental para a saúde e o bem-estar, mas, muitas vezes, é negligenciada em meio ao ritmo acelerado da vida moderna. No entanto, os distúrbios do sono afetam uma grande parcela da população brasileira, impactando não apenas a qualidade de vida, mas também a saúde física e mental.

Neste contexto, foi criada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) uma frente parlamentar com o intuito de atuar em prol da saúde do sono. As frentes parlamentares são associações de deputados, de caráter suprapartidário, destinadas a promover, em conjunto com representantes da sociedade civil e de órgãos públicos afins, a discussão e o aprimoramento da legislação e de políticas públicas para o Estado de São Paulo referentes a um determinado setor.

O lançamento da frente parlamentar em prol da saúde do sono ocorreu na ALESP, no dia 15 de março de 2024, Dia Mundial do Sono. Ela visa promover a medicina do sono como uma especialidade médica essencial, abordando a qualidade e a quantidade de sono como elementos fundamentais para o bem-estar e a saúde da população. Com mais de 70% dos brasileiros enfrentando problemas relacionados ao sono, a frente parlamentar busca destacar a importância de uma noite bem dormida para a saúde física e mental.

Dentre as pautas da Frente Parlamentar estão: 

  • Incentivar a pesquisa científica sobre distúrbios do sono;
  • Desenvolver programas de educação sobre higiene do sono;
  • Garantir o acesso igualitário aos serviços de diagnóstico e tratamento de distúrbios do sono;
  • Participar ativamente da elaboração de regulamentações e normas relacionadas à saúde do sono.

O evento contou com a participação do Professor Dr. Edilson Zancanella, Presidente da Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS) e coordenador da comissão de medicina do sono na Associação Médica Brasileira (AMB), que muito gentilmente conversou com o Portal VoxOtorrino, oferecendo insights valiosos sobre a importância do sono para a saúde e o impacto dos distúrbios do sono para a sociedade. Confira!

Entrevista com o Dr. Edilson Zancanella

[Portal VoxOtorrino] Qual é a importância da criação da Frente Parlamentar do Sono para a sociedade e para os profissionais da área de medicina do sono?

[Dr. Edilson] Existem muitas possibilidades no sentido de mostrar a importância do sono, especialmente no aspecto social. O tema tem muita mídia espontânea, porém ainda encontramos dificuldade para realizar ações públicas sobre a saúde do sono.

Ainda temos muita dificuldade em mostrar que o sono realmente precisa ser ensinado nas escolas de formação, escolas médicas e outras áreas. E também, para mostrar que as doenças que podem ser diagnosticadas e tratadas.

Quais são os principais objetivos e metas da Frente Parlamentar do Sono?

Temos como meta trazer aos legisladores ideias para ações envolvendo a saúde do sono, tanto envolvendo a prevenção como o tratamento.

Existem pouquíssimos leitos de polissonografia hoje no Brasil, criando imensas filas de espera. Vários estudos nos mostram que é muito mais barato diagnosticar e tratar qualquer doença do sono do que esperar as consequências acontecerem.

Já há alguma ação/ações prevista para a Frente? Quais serão os passos iniciais da iniciativa?

Nossas iniciativas visam sensibilizar o Legislativo, o Ministério Público e o Executivo, mostrando que muitas dessas ações podem acontecer em benefício das pessoas.

Alguns exemplos práticos: se tivermos mais leitos de polissonografia, teremos mais diagnósticos. Se tivermos mais equipamentos de CPAP (equipamento utilizado para o tratamento contra a apneia do sono), em conjunto com a Secretaria de Saúde, poderemos expandir a conscientização, assim como oferecer um tratamento muito mais efetivo para as pessoas que têm esse distúrbio [apneia do sono]. Precisamos conscientizar todas as instâncias administrativas que os valores envolvidos em liminares são muito mais caros que a implantação de uma Política Pública em Sono.

Como a sociedade civil e os profissionais da área de saúde podem contribuir para ações da Frente Parlamentar do Sono?

Esse é um tópico muito importante: há pouquíssimos profissionais habilitados para atendimento em sono no Brasil. Hoje, somos por volta de 500 médicos especialistas em sono, o que é um número muito limitado e pequeno para um país como o nosso.

Precisamos criar novos centros de formação em sono. Entendemos que o conjunto de todas essas ações de conscientização, de formação e de tratamento, pode mostrar essa necessidade da população e fazer com que seja possível formar mais profissionais habilitados para identificar distúrbios na saúde do sono da população.

Quais são os principais desafios enfrentados atualmente na área da medicina do sono no Brasil?

Os principais desafios são exatamente esses: temos pouquíssimos locais de formação e esses locais estão muito centralizados no Sul e no Sudeste do país. Não atingimos outras áreas fora desses grandes centros e, por isso, necessitamos mais médicos formados na área.

Para se ter uma ideia: fizemos alguns levantamentos, ainda não finalizados, sobre quantas horas são dedicadas ao ensino de medicina do sono nas escolas médicas… Boa parte delas é de zero hora; outras oferecem cerca de 30 minutos; algumas outras têm até uma disciplina de medicina do sono.

Há uma discrepância muito grande na formação que ofertamos aos médicos e aqueles que vão se interessar pela área. Afinal, tudo aquilo que não é oferecido durante a graduação acaba gerando menos interesse e resultando em mais dificuldades no aprendizado, inclusive no futuro, destes profissionais da saúde.

Como a população pode se beneficiar das iniciativas promovidas pela Frente Parlamentar do Sono?

Acredito que os deputados serão fortemente impactados com a conscientização sobre a prevalência dos distúrbios do sono. A ideia dessa frente, criada inicialmente no estado de São Paulo, é replicá-la também na esfera federal, o que inclusive já está em andamento.

Nossa expectativa é levar [a Frente e suas discussões] também a Brasília. Estamos também levando essa ação do estado de São Paulo para outros estados, para criar um corpo e pensar numa política nacional em sono que nos permita focar em ensino, tratamento, condições de avaliar a população impactada por esse tipo de distúrbio e que possamos provê-los, de formas mais adequadas, de tratamento.

Desde aquele motorista que dorme ao volante, aqueles que têm narcolepsia e que precisam fazer exames detalhados para diagnosticar isso, até pacientes que têm apneia e precisam usar um CPAP: todos esses indivíduos vão se beneficiar dessas ações. Esperamos estimular a criação de futuras leis e até sensibilizar o Executivo, tornando a pauta prioridade.

Qual é a importância da Campanha do Dia Mundial do Sono e como ela está relacionada com o lançamento da Frente Parlamentar do Sono na ALESP? A própria Frente Parlamentar do Sono tem algo previsto/relacionado para a Campanha do Dia Mundial do Sono?

Atualmente, sou o representante da Associação Mundial do Sono para a América Latina. Fui eleito em outubro de 2023, no Congresso Mundial do Sono, realizado no Rio de Janeiro.

Nosso objetivo é aproveitar essa data global para mostrar quão relevante o sono é na vida de todo mundo, além de deixar claro que dormir não é simplesmente ‘desligar da tomada’, há vários impactos na qualidade de vida. Não temos consciência de quanto isso é importante: tanto o número de horas, como a qualidade do sono.

Então, a nossa ideia foi fazer uma somatória disso: aproveitar que conseguimos a frente parlamentar na ALESP e celebrar o Dia Mundial do Sono.

Somado com essa ação, esperamos que algumas outras aconteçam. Por exemplo, acreditamos na publicação de algumas normas, via Conselho Federal de Medicina, que também podem nos ajudar a tornar mais adequada a atuação do médico na área da Medicina do Sono.

Há várias frentes que tentamos levar adiante para que a Medicina do Sono possa vir a se consolidar e que a população possa ter o atendimento e a conscientização necessárias. Uma dessas frentes foi no sentido legal, junto ao Conselho Federal de Medicina; a outra é a Frente Parlamentar, com a qual esperamos sensibilizar os órgãos responsáveis, como a Secretaria da Saúde e o Ministério da Saúde, e mostrar que esse tema é relevante e nunca foi tratado com esse enfoque, abrangência e leque de possibilidades.

Quais são as expectativas para o impacto da Frente Parlamentar do Sono na legislação e nas políticas públicas relacionadas ao sono no Brasil?

Conforme pontuado anteriormente, esperamos que as leis possam nos ajudar a implementar ações envolvendo a Medicina do sono. Desde a esfera educativa, onde o ensino médio possa contemplar conhecimentos sobre sono, até facilitar o acesso, tanto a medicamentos como terapias, como o CPAP a todos que têm necessidade. Que possamos popularizar cada vez mais o diagnóstico de doenças do sono.

Essa iniciativa é inédita e por isso temos grande expectativa de que a situação atual possa melhorar bastante, por conta de toda essa movimentação e, principalmente, com a popularização das discussões envolvendo a ‘saúde do sono’.

Na internet, as pessoas escrevem sobre sono, têm dúvidas que são do dia a dia. Mas precisamos evoluir essa discussão para poder identificar e propor melhores ações a serem tomadas e entender que o sono é um dos pilares da vida saudável.

Afinal, é uma boa noite de sono que nos permite fortalecer as defesas imunológicas; que ajuda no controle do peso; que contribui com a melhora na concentração e na capacidade cognitiva; que reduz os riscos cardiovasculares. Tudo isso está relacionado ao sono, e o que pretendemos mostrar é que cuidar do sono sempre é mais adequado do que esperar as consequências acontecerem.

Acompanhe as próximas notícias no Portal VOX Otorrino e envie as suas sugestões de pauta para comunicacao1@aborlccf.org.br.

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