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A apneia obstrutiva do sono (AOS) é uma condição crônica e altamente prevalente, com impactos significativos na saúde cardiovascular, metabólica e na qualidade de vida dos pacientes. No entanto, apesar de sua relevância clínica, estima-se que a maioria dos casos permanece subdiagnosticada e subtratada. Nesse contexto, um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) trouxe “insights” valiosos sobre um potencial biomarcador sanguíneo que pode aprimorar a abordagem clínica desta condição.

O estudo, publicado no European Archives of Oto-Rhino-Laryngology, apontou que níveis elevados de homocisteína, um aminoácido presente no sangue, estão associados a um maior índice de apneia e hipopneia (IAH) – principal parâmetro utilizado no diagnóstico e classificação da gravidade da AOS. Segundo a Dra. Monica Levy Andersen, coordenadora da pesquisa, os resultados sugerem uma correlação bidirecional, na qual a apneia pode elevar a homocisteína e vice-versa.

Neste artigo, o Portal Vox Otorrino busca se aprofundar no tema, a fim de iluminar essa temática e sua relevância dentro do segmento da otorrinolaringologia.

Aplicações clínicas promissoras

Segundo o Dr. Danilo Sguillar, otorrinolaringologista e especialista em Medicina do Sono, estudos como este são fundamentais para desvendar os mecanismos subjacentes à AOS e identificar novos caminhos para o manejo clínico. “Há vários estudos buscando os chamados biomarcadores para conseguirmos prever alterações cardiovasculares ou metabólicas na Apneia Obstrutiva do Sono” explica o especialista, com quem conversamos para compreender melhor a questão. Ele destaca algumas potenciais aplicações da dosagem de homocisteína:

Triagem e prevenção precoce

Os resultados sugerem que níveis elevados de homocisteína podem ser um fator de risco para o desenvolvimento da AOS. Dessa forma, o exame poderia ser utilizado como uma ferramenta de triagem em pacientes assintomáticos, permitindo a identificação precoce de indivíduos em risco e a implementação de medidas preventivas.

Avaliação de risco cardiometabólico

Além de sua associação com a AOS, níveis elevados de homocisteína também estão relacionados a um maior risco de doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Ao solicitar este exame, os otorrinolaringologistas poderiam avaliar o risco cardiometabólico de seus pacientes com AOS, auxiliando na estratificação de risco e encaminhamento adequado.

Monitoramento da progressão e resposta ao tratamento

Para pacientes já diagnosticados com AOS, o exame de homocisteína poderia ser utilizado como um marcador complementar para monitorar a progressão da doença e a resposta aos tratamentos instituídos, como o uso de dispositivos de pressão positiva nas vias aéreas (CPAP) ou intervenções cirúrgicas. No entanto, mais estudos prospectivos são necessários para confirmar essa aplicação.

Benefícios potenciais e implicações práticas

Uma das principais implicações na rotina clínica dos otorrinolaringologistas seria a possibilidade de identificar precocemente pacientes em risco para a AOS, permitindo uma intervenção oportuna e a prevenção de complicações associadas, como doenças cardiovasculares, metabólicas e comprometimento cognitivo.

Além disso, o exame de homocisteína poderia auxiliar no monitoramento da resposta ao tratamento, norteando ajustes terapêuticos e otimizando os resultados clínicos para os pacientes.

Limitações, desafios e próximos passos

É importante ressaltar que, apesar dos resultados promissores, o exame de homocisteína não substitui os métodos diagnósticos padrão, como a polissonografia, na avaliação da AOS. Conforme destaca o Dr. Sguillar, “como complemento de uma polissonografia, dosagens sanguíneas podem ser úteis“.

Além disso, são necessários mais estudos a longo prazo, preferencialmente ensaios clínicos controlados, para elucidar completamente o papel da homocisteína no contexto da AOS. Esses estudos devem avaliar a aplicabilidade clínica deste biomarcador, tanto para auxiliar no diagnóstico precoce quanto no monitoramento da progressão da doença e resposta às intervenções terapêuticas, como cirurgias de vias aéreas superiores.

Outro desafio a ser superado é a definição de valores de referência específicos para a homocisteína no contexto da AOS, uma vez que diferentes faixas etárias, gêneros, deficiências vitamínicas e comorbidades podem influenciar esses níveis.

Formação médica e conscientização

É fundamental conscientizar os profissionais da saúde sobre a importância do manejo adequado da AOS, dada sua alta prevalência e impactos negativos na qualidade de vida e saúde dos pacientes. A disponibilidade de novos biomarcadores, como a homocisteína, pode auxiliar nesse processo, ampliando as ferramentas diagnósticas e de monitoramento disponíveis. Dr. Sguillar destaca a importância do aprimoramento constante do médico otorrinolaringologista no intuito de entender melhor os mecanismos pelos quais os indivíduos desenvolvem a AOS. 

O estudo realizado pela UNIFESP traz uma nova perspectiva sobre o uso de um biomarcador sanguíneo simples e acessível como ferramenta complementar na avaliação, diagnóstico precoce e monitoramento dos pacientes com  apneia obstrutiva do sono. Embora ainda sejam necessárias mais pesquisas para consolidar sua aplicação clínica, os resultados abrem caminho para possíveis avanços no manejo desta condição prevalente, visando a prevenção de suas complicações cardiovasculares e metabólicas.

Acompanhe as próximas notícias no Portal VOX Otorrino e envie as suas sugestões de pauta para comunicacao1@aborlccf.org.br.

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